Saimos do parque de diversões da infância e começamos a trilhar com tropeços uma estrada muito longa. De início, corremos afoitos, com um brilho no olhar, sorriso no rosto e braços abertos para voar. São os resquícios das criancices dos parquinhos. Tão bobo e tão bom. Pedras pequenas surgem no caminho, as chutamos e seguimos em frente, cantando e olhando as estrelas antes de dormir. O tempo passa, e a música começa a falhar. Conhecimentos estranhos vão aos poucos se instalando em nossas mentes, e as dúvidas enchem nossos corações. A luz que antes nos atraia como a vaga-lumes se encontra agora perdida em um mar revolto, enjaulada nas garras de um antigo monstro do mar, feito para nos assustar. Silêncio passa ser a trilha sonora que acompanha nosso caminhar agora lento e amedrontado pela escuridão. Os passos confiantes, ainda que trôpegos, se tornam lentos.
Todos passamos por essa estrada, e em algum momento teremos que a abandonar. Não para a morte, mas em busca de uma outra. A adolescência é como um rio tortuoso, traiçoeiro e escorregadio que desemboca em um grande mar. Nos sentimos perdidos entre a criança que nos diverte e faz errar e o adulto que está se gerando.
Pode ser muito curioso pensar que não somos mais crianças. Não nos sentimos prontos, e crescemos ao mundo, ao contrário das borboletas, que entram no casulo já sabendo o que irão se tornar. Seres humanos são soltos, jogados no mundo, direto para as garras dos leões. Cheios de motivos para se assustar.
Não há termômetro de maturidade, não podemos saber quando estaremos prontos para "arrasar". Não somos pássaros, mas estamos aprendendo a voar, e como eles, não saberemos se podemos até tentar.
Os rios são perigosos, mas ninguém pode segurar sua correnteza. Aprender a acalmar os leões é a única maneira de sobreviver neste mundo, e podemos nos descobrir ótimos domadores, basta experimentar.
Então talvez - eu não sei, ainda não vi - possa haver um sol enorme se escondendo por trás do tal monstro do mar.
(Ayla Dresch)
Trilha sonora:
