domingo, 28 de setembro de 2014

Ela - Crítica


Ela (Her). Título simples, que faz as pessoas perguntarem "O que?" quando você o menciona.
Assim, de forma sutil, Spike Jonze desenvolve uma trama elaborada que se torna uma das melhores histórias do cinema.

Joaquin Phoenix dá vida a Theodore Twombly, escritor que trabalha para a BeutifulHandwrittenLetters.com - site que escreve cartas "escritas à mão" por encomenda. Irônico que as cartas são impressas e nem mesmo digitadas, mas ditadas para o computador. Aliás, toque - em máquinas ou outros seres humanos - é algo raro no futuro não tão distante da Los Angeles cheia de prédios da película.

Em um momento de solidão, em que a separação recente vivida pela personagem ainda interfere intensamente em sua vida, a propaganda da primeira inteligência artificial - "uma consciência, que lhe conhece e entende você" - parece tentadora demais e ele acaba instalando o software em seu computador.


Samantha, moldada através da performance expressiva de Scarlett Johansson, se mostra engraçada e inteligente, explorando o mundo com curiosidade e excitação, além de compreender e ajudar Theodore em seus momentos difíceis. De uma forma tocante, é possível ver claramente cada passo dado na história para que os dois se apaixonem.

A ideia de uma inteligência, uma consciência sem um corpo é relacionável com tantas coisas que é difícil descrever. Inteligências "artificiais" como as expostas no filme não são impossíveis, mas assim como Amy (Amy Adams) o questiona: "Não é um relacionamento real?", quando ele pergunta se namora um Sistema Operacional por não ser forte o suficiente para suportar uma relação de verdade, porque a inteligência seria artificial? Como seria artificial sendo uma consciência?



Como a própria Samantha explica, por não possuir um corpo ela não está presa a um tempo ou lugar. Com sua consciência expandida, é capaz de ter milhares de conversas ao mesmo tempo e entender o poliamor, além de muitos outros conceitos não facilmente aceitos pela mente comum. Porque relutamos tanto em aceitar coisas que seriam construtivas para o crescimento interior? O físico limita o intelectual ou o expande? Não somos tão evoluidos quanto pensamos ou no fim é apenas uma questão de perspectiva?

É realmente belo quando ela diz que entre todas as coisas em que eles são diferentes, ela resolveu pensar em todas que eles são iguais. O filme é arrebatador por seu roteiro e diálogos contruídos com maestria, além de utilizar o conceito da relação homem-tecnologia como pano de fundo para, com o auxílio de uma fotografia belíssima, tecer profundos questionamentos sobre o que significa ser humano.