quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Meu querido diário pensário


Quando criança, muitas vezes tentei escrever sobre meu cotidiano e o que se passava em minha mente, mas raramente conseguia expressar satisfatoriamente o que desejava. Não possuía o domínio da linguagem como hoje. [...]
 Hoje em dia me arrependo por não ter tentado um pouco mais. Gostaria muito de entender melhor motivações que eu tive e que já foram esquecidas.

A mais ou menos dois anos, comecei a escrever em um diário, que eu gosto de chamar de pensário, pois nele mais escrevo o que penso sobre algo do que sobre o fato em si. Não escrevo diariamente, até porque não teria disponível o tempo necessário para fazê-lo, mas, quando escrevo, procuro ser muito sincera, e escrevo com ardor e dedicação. Existem páginas inteiras repetindo as mesmas coisas, e outras em que a confusão é tanta que depois de algum tempo nem eu entendo o que estava querendo dizer.
Escrevo para extravasar, para tentar organizar os pensamentos. Mas escrevo também para ser lembrada.


Algum tempo depois de nossa morte, e não precisa ser muito, seremos esquecidos, completamente apagados da memória. Isto é claro, se não tivermos registros, provas de que estivemos aqui.

Acho tão romântica a ideia dos diários que atravessam gerações, se tornando quase uma tradição familiar, um guia, uma espécie de ajuda que ecoa através dos tempos para mostrar uma luzinha no fim do túnel. 

Espero também, que ao mostrar meus escritos para meus filhos, quando os tiver, esteja incentivando-os a escrever a próprio punho, despejando sua energia, seu cheiro, sua marca sobre o papel. Digitar é com certeza mais rápido, mas nada se compara a forçar o lápis na superfície porosa, a sentir seus músculos trabalhando em algo tão delicado quanto escrever. Escrevo então para saber quem sou, e para mostrar quem sou.


Escrevendo melhoro ao mesmo tempo o alcance do eco da minha história, e também o meu autoconhecimento. Me compreendo melhor e me faço compreender, visualizando com clareza o quanto amadureci e o quanto ainda tenho que amadurecer.


(Ayla Dresch)