sábado, 16 de março de 2013

O pote e a sede de beber


Sabe quando há um aperto no coração mas as lágrimas se recusam a sair? Quando parece que seu corpo se consome em contradição? [...]

É como se seu coração chorasse por algo que seu cérebro não consegue aceitar. E ai você se sente uma pessoa fria por não cair no choro, por não morrer em um soluço; se sente uma máquina sem coração.
Será este choro pelo que? Por alguém ou por você mesma? Você se descobre em si ou se apega a laços que criou para se sentir completa? 
Você sente ou quer sentir? Ou será que é algo mais puro ainda, algo que não pode ser assimilado? Você não está se iludindo demais? Ou será que está tão conformada que recusa a si mesma o direito de chorar? 
Por que chora, se não por sentir falta do direito de tentar? Da oportunidade para tentar? 
Sente injustos os obstáculos e as distâncias territoriais ou tem medo de percorre-las e lutar contra eles? 
Tem medo de fracassar ou medo de ser o herói? Tem medo de não alcançar o que quer ou de enfrentar o campo de batalha?
Queremos tanto conseguir que esquecemos de parar de temer, e tememos sem perceber, ficamos parados no tempo, esperando um milagre acontecer. Temos que entender que milagres não caem do céu assim, ou melhor, até caem, mas quase sempre em cima das nossas cabeças. Vamos aprender então a desviar. Sei que bate um aperto, um nó nos nervos do nosso corpo e também nos canais de nossa mente. Sinto também e sei como se congestionam as vias dos nossos pensamentos, como olhamos o sol e o céu com olhos diferente, olhos de prece, de pedido de socorro.
Sei que o mar, a chuva e qualquer brisa se transmutam em sinais aos nossos olhos, e que quando uma pomba branca levanta voo à sua frente é como se suas asas murmurassem "continue, você vai chegar lá". Os sonhos se tornam mais do que nunca premonições, e qualquer coisa toma a forma que você precisar para criar uma redoma de ilusão, de motivação.
Mas o que andei notando ultimamente é que esse universo de sinais era uma pedra na engrenagem, impedindo as rodas de girarem, que esse mecanismo de auto defesa era apenas uma desculpa para sentar a bunda no sofá e esperar que fosse dado o pontapé inicial.
Só que esse pontapé tem que ser dado por você, tem que ser dado por mim, porque você pode e deve ir com sede ao pote, fique feliz que você tem um pote para beber. Tire a poeira do piano e comece a tocar, talvez a música que saia não seja a que você esperava, mas quem sabe você não goste? No fim você vai perceber que a música foi tocada por você. (Ayla Dresch)